TEXTE > ELIABE WAGNER 
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Considerado pelos críticos como um grande pensador, o recifense Nelson Saldanha esteve sempre refletindo a história da sociedade e da política do Brasil. em seus trabalhos publicados, ele sempre mostrou um olhar peculiar sobre a humanidade, inclusive nos seus textos jurídicos, revelando-se um jurista humanista e filosófico.

Poetas do nível de Nelson Saldanha são quase solitários em seus espaços estelares, dão-nos a exata noção de que a autêntica modernidade está identificada com as fontes mais puras e remotas da criação artística, em seus valores essenciais. Os temas desse poeta não são os de hoje, os de ontem, os de amanhã; são os de sempre, porque emergem do que há de mais profundo e substancial da própria natureza humana, encarada em seu dualismo espiritual e material. Nelson Saldanha sempre esteve atento aos precários caminhos do tempo e ao grande legado dos que vieram primeiro.

Essa análise filosófica da vida em sociedade é nítida no texto jurídico o Jardim e a Praça, de 1983, que posteriormente foi ampliado e publicado em 1993, no qual o autor disserta sobre diversos aspetos sociais e históricos, envolvendo como tema central a dualidade entre o lado privado da vida social, que ele poeticamente denominou como jardim, e o lado público, denominado como praça. Trata-se de quase que uma indagação àquele ditado popular que diz que “costume de casa não vai à praça”, para demonstrar nitidamente a diferença entre esses dois espaços.

Cada leitor tem o seu próprio ângulo de observação desse texto, podendo ampliar a sua visão de mundo (ou de si mesmo) a partir do simbolismo existente na relação entre praça/jardim, jardim/praça. Entre as suas principais obras literárias publicadas estão: História das Ideias Políticas no Brasil (1968); Legalismo e Ciência do direito (1977), Humanismo e História (1983); Formação da Teoria Constitucional (1983); Teoria do Direito e Crítica Histórica (1987); O Jardim e a Praça (1993).

Além de escritor, Nelson Saldanha também era professor da Universidade Federal de Pernambuco e colaborador de revistas especializadas na área jurídica do Brasil e do exterior, tendo participado de vários congressos, seminários e reuniões sobre História, Filosofia, Sociologia e Direito. Nelson Nogueira Saldanha nasceu no Recife, em 5 de fevereiro de 1933. Faleceu em julho deste ano, na sua residência, na capital pernambucana. Ele teve falência múltipla dos órgãos. o escritor pertencia à Associação Internacional de Filosofia Jurídica e Social, à Academia Brasileira de Letras Jurídicas, à Academia Brasileira de Filosofia e ocupava a cadeira de número 12 da Academia Pernambucana de Letras.

> ALVACIR RAPOSO, MÉDICO E ACADÊMICO

“Nelson Saldanha era um homem fino, educado, extremamente culto e, acima de tudo, um homem extremamente simples, que não se deixava levar pela vaidade. era uma figura ímpar em Pernambuco, do ponto de vista intelectual e humano. Do ponto de vista literário, era um escritor múltiplo. era um homem que trafegava nas áreas do Direito, Filosofia e Poesia. O que guardo de Nelson é a sua humildade à frente de qualquer situação, a sua humildade foi o que mais me marcou nesses mais de 20 anos de convivência”.

> GUSTAVO JUST, JURISTA

“Para a geração da qual faço parte, Nelson nos remete à ideia de que a pedagogia e a didática passam, dentre outras coisas, por tratar os temas que encaramos de maneira muita séria, como algo relativo; todos os problemas que encaramos são relativos a outros problemas que, por sua vez, são relativos a um determinado contexto. Essa ótica radicalista relativista contextualizada é algo muito próprio dele; mais do que um teólogo, ele era um humanista. ele era amável, uma pessoa que não falava nada gratuitamente. A sua sensibilidade é visível em seus poemas e também em suas obras teóricas”.