Cepe lança Não me empurre para os perdidos, de Maurício Melo Júnior, dia 13 de novembro, às 19h, dentro da programação do Circuito Cultural Digital de Pernambuco

A convivência entre o moderno e o arcaico em Pernambuco é pano de fundo para a narrativa do romance Não me empurre para os perdidos, editado pela Cepe e escrito pelo jornalista, crítico literário e escritor Maurício Melo Júnior. O olhar de quem vem de fora – um estrangeiro de formação requintada, tradutor, escritor, F. – se volta para um país ainda marcado pela cultura da escravidão em pleno ano de 1924, e mesmo assim preocupado em criar um ambiente de modernidade. “Foi em busca dessa resposta que escrevi esse romance”, revela Maurício. A obra será lançada dia 13 de novembro, às 19h, dentro da programação do Circuito Cultural Digital de Pernambuco, com conversa entre o autor e a crítica literária Gianni Paula de Melo. 

Não está explícito, mas para os iniciados há pistas de que F. é o escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924).  “Ao usar a epígrafe de Kafka  – ‘Tive algumas apreensões no tocante a descobrir se a minha vida seria bastante para a duração de minha existência’ —, traz na verdade o mote deste livro”, escreve na orelha o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras Carlos Nejar. Há outras referências kafkianas que o leitor mais atento encontrará pelo caminho. A proposta de não falar claramente em Kafka, segundo o autor, é “para não criar aquele sentimento comparativo na leitura de mais um romance kafkiano”.

Utilizando o recurso da metalitetura, Maurício costura três histórias que convivem em paralelo. Enquanto F. vive a defender a importância da leitura e da escrita, duas coisas para as quais se dedica com prazer, demonstrando claramente sua erudição no campo da literatura, também maldiz seu ofício burocrático de tradutor em um escritório de exportação e importação. Por outro lado mostra ao leitor e aos intelectuais que se reúnem no Café Continental seus escritos sobre Max, um judeu que demora nove dias para enterrar um amigo. Algo bizarro diante de uma tradição judaica que pede que a cerimônia seja realizada de imediato. 

Detalhe: esse judeu é Kafka, segundo o autor, que soube da saga de seu enterro ao ler a biografia escrita pelo francês Gérard-Georges Lemaire. “O que ele teria feito durante esses nove dias até o sepultamento? Esta foi a pergunta que  respondi pela ficção: veio para a América, seu grande desejo. E por que não foi logo sepultado? Como nenhum biógrafo responde, criei este caminho burocrático absurdo”, esclarece Maurício. O amigo, por sua vez, escreve um romance sobre as aberrações de uma guerra. É nesses despropósitos contidos em cada texto que eles interagem. “O texto se alinha no escrever sobre a guerra e nas lutas inócuas, nas tarefas inglórias que nos rodeiam, porque as coisas têm sentido, na medida de estarmos vivos, raciocinantes, apesar das calamidades”, escreve Nejar.

O romance também se propõe a entender o Brasil de contrastes a partir do Recife. “Esse nosso país tão complexo quanto fascinante”, nas palavras de Maurício. Por isso a escolha pelas décadas de 1920 e 1930, consideradas os melhores pontos de partida. “Foi a partir da década de 1930 pensadores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Câmara Cascudo, Viana Moog, entre tantos outros, começaram a trabalhar”, explica o autor. Daí a citação de tantos intelectuais desse período, principalmente os pernambucanos. A narrativa se passa em Pernambuco e qualquer recifense ligado em sua própria história reconhece lugares e fatos icônicos do período, enriquecidos por supostos diálogos de F. com escritores e intelectuais da época. O mergulho profundo nos emaranhados recifenses se faz não sem razão: Maurício é radicado em Brasília mas nasceu em Catende e foi criado em Palmares, cidades da Mata Sul de Pernambuco e aqui viveu até os 18 anos. Dos anos 1920 para cá, a desigualdade continua sendo traço marcante da capital pernambucana que reflete o restante do Brasil. “O Recife, como todas as grandes cidades brasileiras, cresceu desordenadamente. Já em 1924 se tinha problemas urbanísticos complexos, como os cortiços do centro da cidade, que estavam sendo demolidos, e os mocambos ao longo dos rios. A cidade também começava a migrar para os lados da praia, abria-se a Avenida Boa Viagem e a antiga aldeia de pescadores era engolida pelo ‘progresso’. É com certa perplexidade que vejo hoje a mesma cidade que li no romance O Moleque Ricardo, de José Lins do Rego, que se passa no Recife dos anos 1920, e a cidade que vivi plenamente no início da década de 1980”, reflete Maurício.    

Autor de 25 livros publicados, sendo a maioria infantojuvenil, Não me empurre para os perdidos é o segundo romance de Maurício. O primeiro, Noites simultâneas, foi lançado em 2017. O autor também publicou uma reunião de duas novelas, Andarilhos, em 2007.

Trechos da obra:

No fundo da rua, o domínio da Praça do Arsenal em que se abre a Torre Malakoff martelando o tempo em seu relógio. Está ali há muitos anos: um observatório astronômico nascido como portal militar. Não entendo porque conto tais fatos se esta cidade não é minha, se aqui nunca a vivi de fato, tenho uma terra antiga na epiderme, uma cidade velha, milenar.

Parece que vivi aqui todos os meus dias, embora saiba que a minha presença é inaugural, embora a cálida temperatura destas horas tropicais me seja tão íntima. Estou neste país solar onde sempre quis estar, mas não lembro a viagem, a partida, as despedidas. Apenas acordei aqui e isso me basta. 

Preciso parar a narrativa, a vida dos soldados, mas voltarei, pois são ainda os medos e os barulhos da maldita guerra que me assombram, ela é parte da essência humana enquanto aqui me ocupo com futilidades, com literatura: uma arte destinada ao nada, e os homens se matando pelos séculos afora e eu fugindo de tudo, até mesmo do desejo de combater, coisa que já me domou, mas que o corpo frágil e doente podou qualquer possibilidade, e fiquei a escrever livros inúteis, tão desnecessários quanto este. 

As dores são passageiras, a escrita é o que fica e mesmo uma escrita pífia é o depoimento de um homem, de uma vida e deve permanecer perpetuando o privilégio de ter acontecido. 

Nenhum rito satisfaz minha ânsia de olhar o mundo como algo permanentemente novo, que se reinventa em cada novo dia. Assim sigo, procurando romper laços e nós. Não pertenço a nada, a nenhuma crença, por mais fundamentada que seja. E o que me interessa como fé compro nas livrarias. 

A rua mais elegante da cidade, a Rua Nova, é um desfile de novidades…Penso que estou em Paris, uma Paris raquítica, mesmo assim Paris.

Escrever um romance é também pescar baleias. Precisamos do mesmo esforço físico e fatalmente da mesma incompreensão. 

Contato para entrevistas:

Maurício Melo Júnior – (61) 9975-7748 – celular e Whatsapp/ mmelo@senado.leg.br

Serviço:

Lançamento do livro Não me empurre para os perdidos (Cepe), de Maurício Melo Júnior, com conversa entre o autor e a crítica literária Gianni de Paula Melo

Quando: 13 de novembro

Horário: 19h

Onde: Circuito Cultural Digital de Pernambuco (circuitoculturaldepernambuco.com.br)

Preço: R$ 25 (livro impresso); R$ 7,50 (e-book)

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