Muita gente gostaria de viver em Schalaraffenland, país imaginário descrito em Opulência, quinto romance do escritor e tradutor paulista Luis Sergio Krausz. O título é lançado nacionalmente pela Cepe Editora neste mês de março. Também conhecido como Cocanha, Schalaraffenland é um lugar mitológico criado na Idade Média, onde não há dificuldades para viver. O mundo ideal, utópico. 

“No Schlaraffenland os peixes nadam na superfície da água, bem

perto das margens, e já vêm assados ou cozidos. Mas se alguém tiver

preguiça demais, como convém a um verdadeiro Schlaraff, basta chamar,

“Pst! Pst!”, e os peixes já saem sozinhos da água e se encaminham,

saltitando, direto para as mãos do bom Schlaraff, que nem mesmo

precisa se abaixar.”

Fluente nas línguas alemã e hebraica, Krausz – descendente de uma família judaica européia – cita esse mito tão presente no imaginário da Europa Central para iniciar a narrativa de Opulência, que se passa em Campos do Jordão, município paulista localizado na Serra da Mantiqueira, com hotéis de luxo e casas em estilo arquitetônico suíço. O título do romance, segundo ele, “tem a ver com os sonhos de abundância vinculados ao ideário de uma determinada classe social no Brasil dos anos 1970, uma era marcada pelo ufanismo e pela megalomania, e por uma confiança ingênua e injustificada no chamado  ‘progresso’”. Na contramão, a realidade era bem outra, como revela na descrição dos costumes vigentes o professor de Literatura hebraica e judaica da USP. A tal opulência vem da herança da alta cultura austro-alemã herdada pela família protagonista do romance, que migra para o Brasil depois do nazismo – sim, há algo de autobiográfico. “De proximidade com o sublime e com o belo – todo um ideário estético e filosófico que nada tem a ver com o consumo e com a posse e que, aos poucos, sucumbe ante os aspectos crassos da experiência humana”, explica Luis. A obra traz, portanto, o lidar com o se tornar eternamente estrangeiro, sem se adaptar à cultura local, e mesmo à própria condição humana. 

O autor conta que frequentou Campos do Jordão desde que nasceu, em 1961, até 2004, e acompanhou de perto o que chamou de tragédia da sua deterioração ambiental e urbana, a invasão de hordas cada vez mais numerosas de um turismo predatório, a expansão comercial, a instalação de shopping centers, a destruição das matas nativas, a instauração de grandes congestionamentos e a favelização da cidade. “Foi, ao mesmo tempo, o paraíso da minha infância e o lugar onde os terríveis equívocos do projeto (ou melhor, ausência de projeto) ‘desenvolvimentista’ do Brasil se tornaram mais evidentes para mim: à flor da pele, por assim dizer”.

No mato e nas ervas daninhas que crescem e derrubam o concreto surge a esperança de que, nesta guerra do homem contra a natureza, o lado que só vem perdendo por fim se vingue. Infelizmente, porém, as opulentas araucárias e orquídeas – tão comuns na paisagem de Campos de Jordão – não triunfarão juntamente com esse mato. “Há uma concepção tradicional judaica de história, que foi retomada por Walter Benjamin, e que entende o chamado ‘processo histórico’ como uma grande sucessão de catástrofes – e o chamado ‘progresso’ como um acúmulo incessante de escombros. É disto, também, que trata este livro: da impossibilidade de reconstruir mundos perdidos, da resignação (mas também da revolta) ante a destruição e ao acúmulo de escombros”. 

“As pragas que tinham crescido do jardim abandonado eram como os refugiados de um continente maldito. Comparar seres humanos a pragas é abominável. Mas há muita gente que não resiste a cometer semelhante abominação.”

Luis Sergio Krausz cresceu em meio a uma consciência do exílio. “Dizem que tudo aquilo que uma geração não é capaz de elaborar e de expressar é passado, silenciosamente, como um baú secreto, para a geração seguinte. Sou o legatário desse grande baú de sentimentos e de emoções nunca expressas e, em minha escrita, procuro revirá-lo, compreendê-lo, apreciar suas belezas e também suas grandes ironias”. Daí a questão temporal tão abordada em seu romance, assim como as memórias, a menção à opulência européia de momentos passados. 

Sobre o autor

Luis atua em três segmentos de atividade literária: pesquisa acadêmica, a criação literária e a tradução. Já publicou um romance pela Cepe: Outro lugar, vencedor do Prêmio Cepe de Literatura (2016), e do Prêmio Machado de Assis (2018). O primeiro romance, Desterro: memórias em ruínas, foi publicado em 2011. Em 2016 e 2014 ganhou segundo lugar na categoria Romance e foi finalista do Prêmio Jabuti, respectivamente, com os títulos Bazar Paraná e Deserto, ambos da editora Benvirá.

Também já publicou seis livros acadêmicos sobre literatura judaico-alemã e literatura judaica, e realizou 15 traduções de autores como Franz Kafka (no prelo), Thomas Mann (no prelo), Aharon Appelfeld e Friedrich Christian Delius.

Serviço

Lançamento do livro Opulência (Cepe Editora)

Preço: R$ 30 (livro impresso); R$ 9 (e-book)

Contato para entrevista:

Luis Sergio Krausz –  (11) 9.8856-6840/ (11) 3812-6665/ lkrausz@usp.br

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