Os cuidados com os olhos, em tempos de pandemia, devem ser redobrados. Afinal, eles são uma das portas de entrada da Covid-19 no organismo e ‘prevenção’ é a palavra de ordem. Atento a isso e a necessidade de alertar a população sobre o diagnóstico e tratamento precoce do Ceratocone, o Instituto de Olhos do Recife (IOR) adere à campanha Junho Violeta. “Neste mês, aproveitamos para chamar a atenção do público, em relação a essa doença multifatorial e progressiva que afeta a estrutura da córnea e pode comprometer a visão seriamente”, explica a doutora Marcela Valença, oftalmologista especializada em córnea, catarata e cirurgia refrativa, no IOR.

Atualmente, o ceratocone é a principal causa de transplante de córnea no Brasil, respondendo por até 65% desse tipo de cirurgia. A doença pode se apresentar especialmente na adolescência, na maioria das vezes, como uma miopia ou um astigmatismo irregular, obrigando ao paciente a trocar várias vezes os óculos de grau. “Por isso, as consultas periódicas com o oftalmologista são indispensáveis e, claro, o paciente deve ficar atento aos sintomas iniciais, dentre eles, uma baixa na acuidade visual, visão embaçada, imagens duplas e mesmo fotofobia”, recomenda a médica.

A DOENÇA – O ceratocone provoca mudanças estruturais nos olhos, que deixam a córnea mais fina e modificam sua curvatura normal para um formato cônico. Existem vários fatores que influenciam o aparecimento e a evolução da patologia. Segundo a doutora Marcela, alguns estudos associam a origem a fatores genéticos, ambientais ou celulares.

Outros ligam a enfermidade ao ato de coçar os olhos, o que é bastante comum, especialmente entre pessoas com rinite alérgica. “Nosso aviso é também para nunca coçar os olhos, principalmente agora, em que o paciente pode se contaminar com o coronavírus e desenvolver um quadro de conjuntivite, em que há o risco de coçar mais os olhos e desencadear ou agravar o ceratocone”, orienta a oftalmologista.

TRATAMENTOS – A doença pode ter vários estágios. No começo, não há alterações importantes nos exames clínicos, apenas a baixa da visão, que pode ser corrigida com o uso de óculos ou lentes de contato. “Em casos mais avançados, as mudanças envolvem o afinamento da córnea e seu formato cônico. Para corrigir esses problemas e melhorar a visão, o paciente pode usar lentes de contato especiais ou se submeter a cirurgia”, explica a doutora Marcela.

Há várias técnicas cirúrgicas que possibilitam o tratamento adequado do ceratocone. Uma delas é o implante de segmentos de anéis intracorneanos. Outras envolvem o transplante lamelar anterior, em que se troca apenas a porção anterior da córnea, e o transplante lamelar penetrante, em que se substitui toda a espessura da córnea. “O mais recente procedimento é o crosslinking de colágeno com riboflavina, também conhecido como CXL. Essa cirurgia é a mais indicada em casos iniciais e consiste em fazer ligações no colágeno da córnea, aumentando sua resistência e diminuindo a progressão da doença”, destaca a oftalmologista.

DIAGNÓSTICO PRECOCE – Embora a ciência tenha desenvolvido vários métodos para garantir uma boa visão a quem tem ceratocone, o diagnóstico precoce é essencial para combater a doença. “As consultas com o oftalmologista são indispensáveis, desde a primeira infância, porque quanto mais cedo o paciente for diagnosticado, mais chances ele tem de estabilizar o avanço da doença. Além disso, diminui-se a incidência e necessidade de transplantes de córnea”, indica.