TEXTO > ELIABE WAGNER
IMAGENS > PRISCILA BUHR

Localizado em Olinda, o espaço preserva a história de umas principais manifesta­ções populares da nossa região.

Apesar de ter perdido força com o passar do tempo, os Mamulengos ainda conseguem arrancar risos de crianças e adultos nas encenações de causos regionais, que por anos foram umas das principais atrações em festas populares no Brasil. Com apresentações cada vez mais raras, mestres mamulengueiros tentam preservar a brincadeira no interior de Pernambuco. Para preservar a história dessa legítima manifestação popular nordestina, o Museu do Mamulengo de Olinda é o responsável por resguardar essa tradição. O espaço que tem 21 anos de existência, conta com um acervo de 1.200 bonecos.

O acervo conta com fantoches produzidos por mestres como Tonho, Zé Lopes, Boca Rica, Saúba e Zé Divina. O pequeno sobrado de paredes amarelas é pequeno para as 1.200 peças sejam apresentadas ao mesmo tempo. Por isso a suas portas são fechadas a cada três meses para a colocação de novos itens.

Os bonecos ficam em salas temáticas que buscam retratar os assuntos preferidos dos mamulengueiros. Cenas e personagens típicos do cotidiano nordestino que são de longe, o foco da tradição. O cangaço, por exemplo, é presença carimbada no museu, que agora também retrata um casamento do interior e a dança dos caboclinhos. Ainda há uma sala inteiramente dedicada ao Mestre Salustiano. Natural de Aliança, na Zona da Mata Norte, o mestre é conhecido por ser um grande tocador de rabeca, entretanto, também é um exímio mamulengueiro.

“Esta é uma arte feita pelo povo e para o povo. É por isso que existe um conjunto de temas e personagens tradicionais relacionados às classes menos favorecidas”, explica a professora Isabel Concessa, do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ressaltando que “os espetáculos evocam a alma do povo”. Contudo, nem só de realidade vivem os mamulengueiros. O universo fantástico também costuma mexer com o imaginário dos mestres e dispõe de uma sala própria no museu de Olinda. Em meio a luzes vermelhas que tiram o visitante do cenário regional, representações da morte, vampiros e diabos fazem alusão ao tema.

A HISTÓRIA DO MAMULENGO

Segundo a professora Isabel Concessa, não há registros oficiais de quando os mamulengos foram criados, mas é certo que eles existem há pelo menos 300 anos. “Não há registro dessas manifestações porque naquela época não havia essa preocupação em arquivar a produção cultural das classes menos favorecidas, já que elas não eram consideradas um segmento social importante”, explica. A teoria mais aceita é que a brincadeira foi trazida para o Brasil no século 16 pelos padres franciscanos, que viram no teatro de bonecos europeu uma forma de ensinar o evangelho de forma didática aos índios.

No início, os fantoches eram utilizados em presépios ao final das missas. Com o tempo, caíram no gosto popular, se espalharam e ganharam contornos próprios. O nome mamulengo veio de “mão molenga”, uma referência ao movimento feito pelos artesãos para movimentar os bonecos.

O MUSEU

O Museu do Mamulengo – Centro de Documentação Espaço Tiridá foi fundado pela Prefeitura de Olinda em parceria com a Fundarpe em dezembro de 1944, como o primeiro museu destinado a mamulengos da América Latina. Inicialmente localizado na Rua do Amparo, foi transferido para o prédio atual, na Rua de São Bento, em 2006. Na nova sede, ganhou mais espaço e atenção.
Entre as 1.200 peças do acervo, há criações de muitos mamulengueiros tradicionais. As peças mais antigas são do século 19 e, por vezes, os artesãos reminiscentes doam novos bonecos. Todos são catalogados e, se preciso, restaurados no próprio estabelecimento. “O museu é uma iniciativa pioneira muito importante porque permite que novas gerações conheçam a história dessa forma artística que é típica da cultura nordestina, mas poderia ser perdida se não fosse o cuidado dos pesquisadores”, diz a professora da UFPE Isabel Concessa. Segundo ela, o acervo da instituição é “riquíssimo e de valor inestimável”.

Para conhecê-lo, o museu só pede uma contribuição simbólica de R$ 2. O estabelecimento fica aberto das 9h às 17h, de terça a sábado.